segunda-feira, 30 de abril de 2018

Glen Hughes em Noite Mágica

Meus amigos, preciso fazer um resgate!! Nos idos anos 70 eu tive meus primeiros contatos com o rock. O primeiro LP que coloquei as mãos foi o Machine Head do Deep Purple e tudo mudou. Ali, naquele momento nasceu um roqueiro que nos primórdios tinha lá suas manias e certezas.

Uma delas era que uma banda precisava manter sua formação eternamente, afinal, não se muda time que está ganhando, mas o Deep Purple, não usava essa tática. As mudanças na banda eram constantes e um determinado momento, entrou o Glen Hughes. Burn, lançado em 1974, manteve a pegada, mas, nas outras faixas já dava pra perceber um certo groove que não combinava com o meu radicalismo. Stormbringer veio, no mesmo ano e para mim azedou mais o vinho que abandonei na representação da capa de Come Taste The Band de 1975. Culpava o Hughes por ter desmontado a banda e direcionado o rockenroll para pegadas rhythm blues que não me interessavam, na época.

Eu não sabia, mas estava totalmente errado. E para aprender, leva seu tempo. Muitos anos se passaram e nesse período, revi tudo o que disse acima. E ontem finalmente, os deuses roqueiros me mostraram o caminho que me recusei a trilhar na juventude. Numa noite mágica, num palco tradicionalmente roqueiro, entupido de gente, lá estava o homem, Glen Hughes me mostrando que nunca é tarde para fechar com o certo.

O cara já começa com Stormbringer e com uma alegria de fazer gosto vai enfileirando canções que são hits em nosso coração roqueiro, saudoso de uma época juvenil que eram repetidamente tocados na vitrolinha. Hughes está com 66 anos, em forma física, vocal, pois, executa todos os recursos que tem disponível para encantar toda a pequena multidão que enche o Circo Voador e até os companheiros de banda que não se frutam de abraçar o mestre ao final do show, como no futebol, ao comemorar uma gol e espiritual, pois, troca toda a energia proporcionada com a turma de fãs ensandecidos, diz cantar para cada um de nós, relembra Jon Lord e Tommy Bolin, para por alguns segundos em um estado de meditação, ovacionado pelo público, antes de deixar o palco. Parece que não é à toa sentir a presença de David Coverdale em muitos momentos do show.

Toda essa empolgação tem um sentido, a música. Poderia resumir em três momentos mágicos. O primeiro, Mistreated. O clássico blues roqueiro acompanhado a plenos pulmões pela turma de encantados no seu refrão. Solado magistralmente pelo guitarrista Soren Andersen que acompanha Hughes há 10 anos. You Fool No One, que dá espaço para todos os músicos, começando pela introdução de teclados com Jay Boe e finalizando com um solo de bateria do jovem Fer Escobedo, o chileno, caçula da turma, que permitiu uma dispersada da torcida, mas nada que não pudesse ser reparado com uma chamada de volta do próprio músico. Foi o momento de recordar o California Jam, que foi a primeira vez da formação da banda com Hughes e Coverdale.

O ultimo momento mágico, foi a sequência final com Highway Star e Burn, derrubando qualquer pedra que ainda estivesse sobre outra em alguma coração resistente e deixando senhores de meia idade voltar em espírito na distante juventude em air guitars e danças tribais como se não houvesse amanhã. Épico!

O set list foi 
1- Stormbringer
2- Might Just Take Your Life
3- Sail Away
4- Mistreated
5- You Fool No One
6- This Time Around
7- Gettin’ Tighter
8- Smoke on the Water/Georgia on My Mind
9- You Keep on Moving
Bis 
10- Highway Star
11- Burn

Fotos de Cleber Junior

Glenn Hughes - Circo Voador